Velhos conhecidos podem ser responsáveis por essa drástica alteração
A cada dia que passa nos aproximamos mais rápido do temido ponto de inflexão da Amazônia, em que todo esse ecossistema poderá vir a se tornar uma imensa savana. Para piorar, especialistas indicam que os motivos para isso ainda são:
- As políticas públicas inconsequentes;
- O aquecimento global;
- O desmatamento;
- Os incêndios.
Quer entender melhor esse risco? Continue no nosso artigo.
Afinal, esse risco existe?
A comunidade científica global não possui um consenso quanto a essa resposta, mas algumas teses possuem mais força que outras nesse meio. Um grande exemplo é o material publicado pela revista Science produzido pelo climatologista Carlos Nobre, em 1990. Desde aquele momento, ele defendia que “(…) se desmatarmos grandes partes da Amazônia, ela se tornará uma savana”.
Portanto, sim, esse risco existe. E, apesar de uma redução gradual ter sido registrada ao longo dos anos, nos aproximamos desse problema a passos largos, uma vez que ainda não atingimos um patamar de exploração responsável.
Dados coletados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon, por exemplo, apontam que, entre o ano em que o artigo citado acima foi divulgado e 2010, mais de 55 milhões de hectares de florestas foram derrubados em território nacional. Conforme o mesmo instituto divulgou em seu portal, em fevereiro de 2014, “(…) o ritmo de destruição, nas últimas duas décadas, foi 170 vezes mais rápido do que aquele registrado na Mata Atlântica durante o Brasil-colônia”.
A Amazônia, por sua vez, perdeu mais de 780 mil km² de sua vegetação nativa, o equivalente a mais de duas vezes o espaço ocupado pela Alemanha, que mede aproximadamente 357 mil km². Além disso, uma queda constante registrada nessas taxas desde 2005, apesar algumas variações, se transformou em uma subida colossal desde 2018.
Informações apresentadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostraram que esses números cresceram mais de 85% em um intervalo de dois anos. O mesmo órgão indica que esse cenário tende a não mudar, visto que, em abril de 2021, o desmatamento no local foi o maior da série histórica.
Quanto tempo temos?
Em conversa com a revista Yale Environment 360, publicada em setembro de 2019, Carlos Nobre reforçou seus pontos e afirmou que se seguirmos com o ritmo atual, o ponto de inflexão desse ecossistema vai ser atingido entre 20 e 30 anos. Além disso, o climatologista explicou como a savana que descreveu em 1990 pode se tornar possível, mesmo em um ambiente tão molhado.
Segundo ele: “(…) o clima pós-desmatamento não será mais um clima muito úmido, ficará mais seco, a Amazônia terá uma estação seca muito mais longa, como a das savanas tropicais da África. O que sabemos hoje é que se excedermos 40% da área desmatada, a Amazônia terá um ponto de inflexão. Cerca de 60 a 70% da floresta amazônica se tornará uma savana seca”.
Ele ainda explica o motivo que faz com que o Brasil seja mais propício a esse problema, e conta: “(…) somente no oeste, perto dos Andes, que é muito chuvoso, a floresta amazônica ainda estará lá. Portanto, esse é o ponto de inflexão”.
Os mesmos problemas de sempre…
É impossível produzir qualquer material sobre esse assunto sem reforçar pontos que, entre os pesquisadores desse setor, são considerados repetitivos e, em alguns casos, até redundantes. Acompanhe:
- As políticas públicas inconsequentes
A postura do governo federal vem sendo extremamente criticada por diversos líderes estatais e órgãos voltados à preservação ambiental ao redor do mundo. Um dos principais símbolos desse movimento foram os protestos realizados em inúmeras esferas a respeito de 10 de agosto de 2019, data que entrou para a história nacional como o Dia do Fogo.
À época, Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha, Boris Johson, primeiro-ministro do Reino Unido e Emmanuel Macron, presidente da França, foram alguns dos nomes que publicaram mensagens indignadas com a situação ecológica local, que se intensificou muito a partir daquele momento.
Em contrapartida, Jair Bolsonaro (sem partido) minimizou os estragos e afirmou que “(…) a floresta não está pegando fogo como o pessoal está dizendo. O fogo é onde o pessoal desmata”. Apesar disso, confirmou que algumas nações se propuseram a ajudar no combate a esses crimes.
O presidente também virou alvo de críticas após seu governo publicar, em abril desse ano, sua primeira meta de redução de desmatamento na Amazônia. Apesar de parecerem promissores em um primeiro momento, os números propostos não significavam uma redução eficiente nessa luta.
- O aquecimento global
Esse ponto funciona de maneira recíproca com todos os problemas listados em nosso texto. Afinal, o aquecimento global não só colabora com a propagação de incêndios, por exemplo, como também se fortalece com isso.
A explicação para isso é o fato de estarmos lidando com o maior consumidor sustentável de carbono do mundo, e alterações desse calibre geram consequências em diversas áreas do planeta.
Em um artigo publicado na Folha de S. Paulo, em março desse ano, José Marengo, climatologista e pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de desastres Naturais (CEMADEN), e Thomas Lovejoy, presidente do Amazon Biodiversity Center, reforçaram esse ponto. Segundo eles: “(…) a Amazônia não está piorando as mudanças climáticas: é a perda da Amazônia que está piorando as mudanças climáticas”.
- Os desmatamentos e os incêndios
Esses tópicos são complementares e, juntos, podem ser considerados os dois principais problemas práticos enfrentados pela região amazônica. Utilizando o mesmo exemplo que apresentamos anteriormente, o Dia do Fogo foi um registro explícito de como essas duas atividades se completam.
Em uma reunião realizada com Jair Bolsonaro, em 27 de agosto de 2019, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), apresentou números sobre aquela ocasião. Segundo o político, apenas na Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, aproximadamente 3 mil hectares foram queimados “(…) para fazer pasto”. Segundo ele: “(…) o sujeito vai lá, desmata, queima, faz pasto e aluga a área para um produtor rural.
Todos esses pontos mostram a importância de apoiar inciativas independentes, que lutem por uma melhora na região amazônica desvinculada de propostas estatais.