As queimadas não param mesmo com todos os alertas de órgãos ambientais
A realidade da floresta amazônica é mais cruel do que imaginamos e isso tende a piorar. Segundo estudos do projeto MapBiomas, entre 1985 e 2020, esse bioma teve quase 20% de seu território queimado. A situação preocupa o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e outras entidades que lutam pela preservação da Amazônia.
A diretora do IPAM, Ane Alencar, chama a atenção para o problema que pode aumentar consideravelmente ao longo dos próximos anos. “Com o clima seco, as queimadas ocorrem com mais frequência, degradando a floresta. O impacto disso é que as espécies que são mais resistentes vão dominar e a biodiversidade ficará mais pobre”, explicou Ane, em entrevista à CNN.
O levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa revela que a taxa de recorrência do incêndio florestal está na mesma proporção do fogo que atinge o Pantanal e o Cerrado. Diferentemente da Amazônia, esses biomas têm o fogo presente na sua dinâmica. “O fogo é um agente de transformação da paisagem, mas a ação humana tem intensificado o uso desse fogo e impactado alguns biomas.”, ressalta a diretora do IPAM.
Os incêndios trazem muitas transformações para o bioma tropical, como redução da qualidade do habitat e perdas econômicas. Há também perda de infraestrutura e impactos na saúde da população durante a época de queimadas. Para combatê-las, as pesquisas e estudos realizados por meio do Projeto MapBiomas são fundamentais no planejamento eficaz.
Aumento no número de queimadas
Mesmo com todos os alertas sobre os problemas ocasionados pelas queimadas, elas não param de aumentar. Só para se ter uma ideia, até agora, o mês de agosto é o que apresentou o maior número de queimadas na região do Amazonas.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 4.167 queimadas foram registradas até o dia 14 de agosto. O índice é bem maior do que o registrado em julho, que apresentou 1.173 focos de calor.
Os índices de queimadas tão elevados têm tornado a Amazônia um lugar prejudicial ao clima mundial. Isso porque as regiões afetadas pela degradação estão levando a floresta brasileira a emitir mais carbono do que consegue absorver. O levantamento é de uma pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O estudo foi publicado na revista científica Nature.
De acordo com a pesquisadora Luciana Gatti, as queimadas e o desmatamento tornaram a Amazônia uma fonte de carbono.
Emissão de carbono
Gatti explica que além da emissão de carbono, uma outra descoberta preocupa. A pesquisadora explica que o desmatamento provoca a emissão indireta do carbono. Isso é causado pelo impacto da diminuição das chuvas na fotossíntese.
Os estudos demonstram que as regiões desmatadas apresentam maior perda de chuva, principalmente na estação seca. A redução do volume das chuvas e o aumento da temperatura na floresta têm afetado a fotossíntese. Esse efeito faz com que as árvores emitam mais CO2 do que em situações normais com a finalidade de compensar o desequilíbrio.
As árvores deixam de fazer fotossíntese quando há um aumento da temperatura causado pelo desmatamento, emitindo apenas os gases para a atmosfera, e não mais absorvendo-os.
Segundo a pesquisa da revista científica Nature, a floresta emite mais carbono do que consegue absorver. Os dados mostram que atualmente são emitidos 0,29 bilhão de toneladas de carbono por ano na atmosfera.
Ainda de acordo com dados da pesquisa, o desequilíbrio é maior na região sudeste da Amazônia, que faz fronteira com outros biomas. A área concentra a maior parte da devastação, por isso é conhecida como “Arco do desmatamento”. Essa é uma das regiões mais vulneráveis do bioma pelas pressões do desmate e das queimadas.
Para ter acesso às informações relevantes, a pesquisa contou com uma metodologia que coletou 590 amostras do ar em diferentes altitudes. Foram coletadas de uma altura que variava de 4.420 metros a 300 metros acima do nível do mar com o auxílio de aviões no período de 2010 a 2018.
Segundo a pesquisadora Ane Gatti, é a primeira vez que um levantamento aponta a redução no potencial de absorção da floresta e um aumento na emissão do CO2.
Regiões que mais apresentam emissão do gás na atmosfera:
- Região Sudeste da Amazônia: Sul do estado do Pará, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso.
- Região de floresta ecótona: entre o bioma amazônico e o Cerrado.
Essas áreas são historicamente muito desmatadas. Em vez de pararem o desmatamento, grileiros, madeireiros e pecuaristas ilegais, continuam com as suas ações destrutivas. Com isso, as estações secas tornam-se cada vez mais longas e mais cruéis para o equilíbrio climático. Conter os avanços das queimadas torna-se cada vez mais difícil, já que as medidas do governo federal são ineficazes e as fiscalizações raramente ocorrem.
O futuro da Amazônia é incerto e coloca em risco tanto as gerações atuais quanto as futuras.