Em conferência virtual que contou com a presença de diversos nomes do setor empresarial e ex-ministros, o diplomata norte-americano atuante no país, Todd Chapman, afirmou que a proteção da Amazônia é fator decisivo para futuras negociações entre Brasil e Estados Unidos (EUA).
Em momento específico do encontro, afirmou que a preservação será ponto categórico para o ingresso do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), objetivo cobiçado pelo atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, desde o ano de 2019 e que contava com apoio do antigo presidente americano, Donald Trump. Após assumir, Joe Biden defendeu que o Brasil terá que mostrar resultados positivos no que concerne a questão ambiental.
O embaixador ressaltou que a questão ambiental é importantíssima para a pauta, em live realizada pelo grupo Parlatório (conta com advogado, empresário e políticos). Essa questão levantada foi em resposta a uma indagação levantada por Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e diretor de estratégia econômica do Banco Safra.
Em relação aos participantes da live, Levy era um dos expoentes mais importantes ali presentes. O evento também contou com presença de Sylvia Coutinho, chefe UBS BB Investment Bank no Brasil e administração de fortunas na América Latina. A transmissão também contou com a presença de Luiz Fernando Furlan, o ex-ministro Sérgio Moro. Cerca de 100 pessoas acompanharam a transmissão da live.
A Amazônia foi colocada como ponto importante de discussão por Chapman, o que reflete claramente na relação Brasil-EUA. Ao ser questionado sobre uma possível relação de livre comércio entre os dois países, por exemplo, ele ressaltou que a questão ambiental necessita ser revista no Brasil antes de quaisquer discussões, bem como as leis trabalhistas, os direitos fundamentais e a defesa da população indígena. “O Brasil está na agenda do meio ambiente de Biden”, ressaltou.
O diplomata afirmou que as iniciativas ambientais não devem partir apenas do governo brasileiro, mas também por parte do setor privado. É necessário que o setor privado também invista na preservação ambiental. “A Amazônia não necessita de apenas investimento do governo, mas também do setor privado”, estabeleceu. “A iniciativa privada não vai pagar a conta de quem está atuando ilegalmente no bioma”, disse.
Além disso, no concernente às questões bilaterais entre os dois países, o embaixador disse que o governo americano tem acompanhado a pauta sobre a reforma tributária no país e ressaltou interesse por parte das empresas norte-americanas no tratado entre os dois países acerca da tributação de receita nos dois mercados.
Pandemia e a vacinação
No encontro, outra pergunta frequente foi acerca da destinação de vacinas ao Brasil compradas pelos EUA e não utilizadas até o presente momento. Os EUA adquiriram vacinas, como Oxford/AstraZeneca, mas ainda não foram autorizadas no solo norte-americano.
O embaixador não quis assumir esse compromisso, mas argumentou que há tratativas entre os EUA e o Brasil acerca da possível destinação das vacinas a fim de ajudar o Brasil nessa empreitada. “Alguns Diplomatas em Washington estão discutindo a possibilidade ajudar o Brasil com a vacinação”, afirmou.
Todd Chapman frisou que as empresas Pfizer e Janssen já firmaram acordo com o intuito de vender ao Brasil cerca de 140 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19. Lamentou, também, a demora em fechar o acordo. O governo brasileiro fechou acordo apenas no primeiro trimestre de 2021, após vários outros países, o que resultou no atraso de entrega das doses. “Seria importante que os contratos tivessem sido fechados antes a fim de que o Brasil já pudesse contar com as doses”, relatou Chapman.
Ainda, o embaixador frisou a previsão de que toda a população adulta americana seja vacinada até o fim do mês de maio, o que não gera nenhuma surpresa uma vez que houve investimento de 12 bilhões de dólares na vacinação. No entanto, Todd evitou entrar em maiores detalhes acerca da compra das vacinas pelo governo brasileiro.
Em outra questão, Chapman disse que ainda não há decisões sobre “passaportes vacinais” àqueles que tomaram Coronavac no Brasil, acerca da possibilidade de entrar nos Estados Unidos. A vacina Coronavac, fruto de parceria entre a empresa chinesa Sinovac e o Instituto Butantan, ainda não está aprovada nos EUA.
Demora na vacinação pode comprometer os resultados da campanha
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Campinas (Unicamp) em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) constatou que a demora na imunização compromete os bons resultados que poderiam atingidos pela campanha de vacinação.
“O objetivo da pesquisa foi demonstrar a necessidade de vacinação rápida. Uma taxa de vacinação alta será capaz de evitar cerca de 80% de mortes neste cenário de onda pandêmica”, afirma o pesquisador Thomas Vilches.
O estudo considerou que com uma taxa alta de vacinação, na casa de 1,3 milhões de doses aplicadas por dia, haveria redução de 65% de mortes com a aplicação da Coronavac e 75% com a AstraZeneca, explicou o pesquisador.
Segundo os pesquisadores, o estudo já foi apresentando às autoridades de São Paulo a fim de reafirmar a necessidade de avanços na imunização. O objetivo é que o estudo possa servir como argumentação a fim de que a vacinação seja rápida. Se o Brasil não contasse com escassez de doses, os resultados seriam bem melhores.