O desmatamento de florestas contribui para o surgimento de vírus que podem dar origem a pandemias. Isso acontece por vários motivos e torna-se um fenômeno cada vez mais frequente no mundo.
Amazônia e a biodiversidade
Assim como os diferentes tipos de animais e de vegetação, existem também na floresta amazônica uma diversidade enorme de vírus. Por isso, a região é considerada como a mais abundante do mundo em diferentes tipos de bactérias e agentes contaminantes. Sem a interferência humana, eles vivem em equilíbrio em seus hospedeiros naturais, que podem ser macacos, morcegos ou outras espécies.
Os agentes transmissíveis são os seres mais abundantes do mundo e podem ser encontrados em qualquer ecossistema, não só na Amazônia. Apesar disso, eles só atingem as pessoas quando perdem o seu espaço e o seu hospedeiro. A transmissão de doenças infecciosas entre animais e pessoas ocorre com o desmatamento florestal, tráfico e extinção de animais, caça ilegal e ao alimentar-se das espécies. Tudo isso causa desequilíbrio, que pode ser perigoso para o ser humano.
As queimadas cada vez mais constantes em florestas tropicais como as da região da Amazônia Legal e de outras, como as localizadas no continente africano e no sudeste asiático, causam extrema preocupação entre os especialistas. Segundo eles, a população que vive às margens do desmatamento são as mais expostas às doenças que podem surgir. O grande temor entre pesquisadores e cientistas é que a próxima pandemia surja por causa da devastação desses biomas.
Acredita-se que o próprio coronavírus tenha tido origem na interferência humana na natureza, após o consumo de animais selvagens. Essa tese ainda não foi confirmada, porém é a mais defendida.
Só para se ter uma ideia da gravidade do desmatamento, vamos relembrar o que aconteceu em 1997 na Indonésia, quando uma grande área de floresta tropical foi completamente destruída para a expansão agrícola. Na época, a queimada atingiu o bioma, forçando morcegos a procurarem alimentos em locais onde havia presença humana. Naquele momento, aqueles morcegos levavam um vírus de uma doença mortal. Ao comerem as frutas nas localidades, os animais a infectaram por meio da saliva. Foi daí que tudo começou.
Os porcos da região eram alimentados com os frutos já mordiscadas pelos morcegos, sendo contaminados e mortos pela doença. Os moradores locais que também se alimentaram dos frutos e dos porcos já infestados, também contraíram o vírus conhecido com Nipah. A partir daí, 265 pessoas desenvolveram uma grave inflamação cerebral, levando à morte 105 delas. Até hoje há uma série de surtos referentes à doença em todo o sudeste asiático.
Esse exemplo só demonstra a força das infecções virais que se alastram pelo mundo por causa da devastação da vida selvagem. Nos últimos 20 anos, pesquisas científicas apontam o desmatamento como uma das principais causas para o surgimento de novos patógenos. A complexa cadeia de acontecimentos favorece a contaminação entre os humanos, levando a diversos óbitos. O desequilíbrio ambiental deve beneficiar o aparecimento de vírus ainda mais perigosos e difíceis de combater.
Conheça algumas dessas doenças infecciosas causadas por desmatamento florestal.
- Vírus Nipah: É uma doença transmitida por meio do contato com fluidos ou excrementos de morcegos infectados, ou por meio do contato pessoa-pessoa. A doença já foi encontrada na Indonésia, Malásia, Singapura, Índia e Bangladesh. Os sintomas são semelhantes aos de uma gripe e podem evoluir rapidamente, resultando em complicações neurológicas graves que levam à morte. Em algumas pessoas, os sintomas são leves e a recuperação se dá entre 3 e 14 dias após o aparecimento da doença. Os contaminados podem apresentar:
- dor muscular;
- encefalite (inflamação do cérebro);
- desorientação;
- náuseas;
- febre;
- dores de cabeça;
- redução das funções mentais,
- levando ao coma em 24 e 48 horas.
- Febre de Lassa: surgiu em 1969 na cidade de Lassa, na Nigéria. Nos humanos, a infecção ocorre pela exposição a excrementos de animais por meio do trato respiratório ou área gastrointestinal. A doença também pode ser contraída por meio de rachaduras ou ferimentos e cortes na pele, caso as membranas das mucosas sejam expostas diretamente ao material infectado. Alguns sintomas:
- vômito com sangue;
- diarreia com sangue;
- dor de estômago;
- constipação;
- dificuldade de engolir;
- hepatites;
- hipertensão;
- taquicardia;
- tosse;
- faringite;
- encefalites meningites;
- déficit de audição unilateral ou bilateral.
- Doença de Lyme ou borreliose: É uma infecção bacteriana transmitida por carrapatos, presentes em animais domésticos ou silvestres. Os primeiros sintomas são mancha vermelha no local da picada, cansaço, febre, rigidez no pescoço, dores de cabeça. As complicações podem evoluir para artrite e condições neurológicas. Pessoas que fazem trilhas ou tem contato com animais devem ter extremo cuidado e usar roupas que evitem a picada dos carrapatos, como calças e camisas de mangas compridas.
- Parasitas causadores da malária: A transmissão da malária ocorre por meio da picada de um mosquito infectado com o protozoário ou por uso incorreto ou compartilhamento de agulhas e de instrumentos cortantes. O mosquito infectado transmite protozoários para o ser humano por meio de uma picada. A partir daí, a pessoa torna-se um portador de malária. Os protozoários instalam-se no fígado e se reproduzem, passando a afetar os glóbulos vermelhos. Sintomas: febre alta; calafrios; suor; dores musculares, dor de cabeça; taquicardia; aumento do baço; cansaço vômitos e convulsões. A doença anda de braços dados com o desmatamento e mata mais de 1 milhão de pessoas por ano no mundo. No Brasil, após anos de queda, o número de casos voltou a crescer e estão relacionados ao aumento do desmatamento.
O que fazer para evitar?
Segundo o ecologista especializado em doenças do Instituto de Geociências da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, Andy MacDonald, o desmatamento é tido como um grande fator de transmissão de doenças infecciosas. Ele ressalta que quanto mais degradadas as florestas, mais expostos estaremos a situações de epidemias.
Por causa dessa realidade, pesquisadores estão cada vez mais preocupados com o que vai acontecer com a transmissão de doenças infecciosas após o fim das queimadas na floresta amazônica. Um dos alertas é com o aumento significativo da malária, que na década de 1940 infectava cerca de 6 milhões de brasileiros por ano.
Não à toa, ecologistas e ambientalistas defendem medidas eficazes contra desmatamentos e queimadas na maior floresta tropical brasileira. Essa é uma das maneiras de evitar a proliferação da malária e o surgimento de outras doenças infecciosas que podem se tornar uma pandemia mortal.