Fome, desmatamento, malária. Não bastassem esses problemas, a Terra Indígena Yanomami, em Roraima, tornou-se alvo de ataques de garimpeiros que tentam extrair ouro de maneira ilegal das reservas.

Pedido de ajuda

A situação alarmante é ignorada pelas autoridades, que fingem não escutar o pedido de socorro dos índios Yanomamis, que estão sob ameaças constantes. No último dia 10 de maio, um confronto deixou quatro garimpeiros e um índio feridos. O território indígena tinha sido atacado pelos invasores fortemente armados.

Segundo o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Kopenawa Yanomami, todas as autoridades governamentais têm conhecimento das invasões e da violência contra os povos da reserva. Kopenawa relata que garimpeiros utilizam armas pesadas como metralhadoras, a fim de intimidar e expulsar os índios.

Tudo começou quando homens em uma embarcação se aproximaram da localidade Palimiú já atirando. Lideranças locais afirmam que procuraram ajuda do Exército, da Polícia Militar, da Polícia Federal, da Funai e do Ministério Público de Roraima, mas nada foi feito.

Por terem sido ignorados, os índios temem outros ataques. No ofício enviado às entidades públicas, as lideranças afirmam o seguinte: “Queremos apenas que os órgãos do governo federal e estadual impeçam a continuidade da violência, garantindo a segurança da comunidade yanomami de Palimiú”.

Garimpo ilegal

Há muitos anos, a comunidade de Palimiú é uma das mais afetadas pelo garimpo ilegal. Os invasores chegam à Terra Indígena por meio do rio Uraricoera em busca de ouro e pedras preciosas. As primeiras invasões ao território foram detectadas ainda na década de 1980.

A falta de uma fiscalização eficaz favoreceu a exploração do território. Atualmente, a situação ficou ainda pior e estima-se que cerca de 20 mil invasores atuem de maneira ilegal na extração de ouro no território que deveria ser de uso exclusivo dos indígenas.

Com os olhos do governo federal fechados para o problema, os garimpeiros aproveitam para degradar as terras demarcadas dos índios. Só para se ter uma ideia, houve um avanço de 30% no garimpo de ouro ilegal, destruindo uma área de 2.400 hectares. As informações são do estudo publicado em março pelas organizações Hutukara e Seedume, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA).

Relato de violência

Os relatos de violência são muitos no território. Constantemente, os índios são vítimas das agressões dos garimpeiros. No dia 16 de maio, Dário Vitório Kopenawa Yanomami enviou mais uma carta às autoridades para alertar sobre o perigo que vivem dia e noite.

Os ataques têm acontecido com maior frequência e com maior número de garimpeiros aterrorizando a comunidade. De acordo com os índios que estavam no território durante a invasão do dia 16 de maio, foram avistados 15 barcos de garimpeiros.

Os Yanomami afirmaram terem ouvido diversos tiros e que os invasores dispararam bombas de gás lacrimogêneo. A comunidade ficou em desespero e não conseguiam se livrar dos agressores.

Em um episódio anterior, a Funai, o MPF e a Polícia Federal em Roraima foram informados sobre o primeiro conflito na aldeia yanomami. Na ocasião, os índios interceptaram cinco garimpeiros que estavam em uma embarcação carregada de combustível para avião e helicóptero. Eles apreenderam a carga de 990 litros de combustível, expulsando cinco invasores. Porém, outros sete garimpeiros, reagiram disparando tiros contra os indígenas. Os Yanomami revidaram com mais tiros. Entretanto, ninguém ficou ferido.

A comunidade indígena está com os seus direitos ameaçados e por não terem apoio governamental, reagem aos invasores. Por isso, eles insistem por mais segurança. Entre as reivindicações dos indígenas estão:

  • A instalação de um posto avançado emergencial: A unidade vai atender a comunidade de Palimiu. A finalidade é manter a segurança no local e no rio Uraricoera, por onde os garimpeiros chegam.
  • Apoio logístico do Exército de maneira imediata para garantir a segurança no local.

Covid-19

Os invasores não são perigosos apenas pela violência, mas pela contaminação da covid-19 que transmitem para os índios. De acordo com dados Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), já foram detectados mais de 53 mil casos de covid-19 entre indígenas pertencentes a 163 tribos diferentes.

Até o dia 10 de maio foram registradas mais de mil mortes de indígenas, sendo que nove pessoas são da comunidade Yanomami. A doença atinge índios de todas as idades, inclusive crianças.

Toda a destruição no território indígena é consequência da invasão desenfreada dos garimpeiros, que se aproveitam da omissão do governo federal e do Ministério Público.

O descaso é tanto que até o momento a maior parte dos índios não recebeu a primeira dose da vacina de combate ao coronavírus, embora façam parte do grupo prioritário. Poucos foram imunizados. Além disso, ainda há denúncias de que imunizantes teriam sido desviados por agentes que atendem as comunidades. De acordo com as denúncias, profissionais da saúde desviam as vacinas contra covid-19 para aplicarem em garimpeiros. A transação é paga com ouro retirado dos territórios indígenas. Isso é o que relata a coordenadora regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Adriana Huber Azevedo.

A situação de abandono dos índios yanomamis e de outras etnias preocupa ativistas e ONGs que trabalham com essa população. Há um temor de extinção das tribos, principalmente daquelas isoladas.

Enquanto isso, o governo federal continua a ignorar os apelos das comunidades indígenas.