Alta em algumas regiões está entre as maiores registradas na história
A Amazônia continua sofrendo com enchentes no estado, e as últimas duas décadas tem intensificado ainda mais esse problema. Segundo informações colhidas pelo Grupo Globo, dois fatores podem explicar essas mudanças:
- O aquecimento do oceano Atlântico;
- O fenômeno La Niña.
Quer entender melhor todos esses acontecimentos? Continue no nosso artigo!
O que está acontecendo?
Dentre os 62 municípios do Amazonas, 58 foram ocupados pelos rios Negro e Solimões. Ao todo, mais de 455 mil pessoas foram atingidas diretamente por essas cheias, que ainda não começaram a diminuir.
Valderino Pereira é engenheiro civil e, atualmente, é responsável por realizar as medições desses cursos de água. Em entrevista ao Fantástico, da rede Globo, mostrou o livro em que todos os dados são registrados. Segundo o material, as regiões estão lidando com uma das maiores enchentes da história, catalogada nesses locais desde o ano de 1902.
“Porto de Manáos, no anno de 1902”
As páginas envelhecidas e amareladas, marcadas por uma língua portuguesa que condiz com esse desgaste, ajudam a estruturar uma ilustração assustadora, que se reforça pelos dados distribuídos ao longo do único exemplar. São quase 120 anos de história, mas apenas nos últimos 12 foram listadas seis das dez maiores cheias de todos os tempos.
No dia 1º de junho de 2021, uma terça-feira, foi oficializado o registro mais alto dessa coletânea dentro desse território. Segundo informações locais, o rio Negro atingiu 29,98 metros, um centímetro a mais que o recorde anterior, anotado em 2012.
Qual a explicação para tudo isso?
O fenômeno chave que desencadeia todos esses problemas são as chuvas volumosas que ocorrem em toda a região amazônica. Apesar de serem registradas com muita frequência em outras épocas do ano, um conjunto de fatores tem feito com que esses eventos ocorram com maior intensidade e por mais tempo na atualidade.
A começar pelo aquecimento do oceano Atlântico, que tem aumentado consideravelmente nos últimos dez anos. No dia 12 de outubro de 2020, descobertas publicadas no Proceedings of the National Academy of Science, nos Estados Unidos, apontaram a década mais recente como a mais quente dos últimos 2900 anos.
Esse esquentamento foi explicado como um resultado direto de um acontecimento chamado de Atlantic munti-decadal oscillation (AMO), ou oscilação multidecadal do Atlântico. Segundo os cientistas, esse fenômeno se refere a uma variação de temperatura das águas na superfície do mar que pode gerar resultados variados, desde o aumento de furacões intensos até, no caso do Brasil, a alteração nos níveis de chuva.
Aliado a esse ponto está o que os cientistas chamam de La Niña, uma alteração brusca nas temperaturas do oceano Pacífico. Um de seus principais resultados é a atração de nuvens para a região amazônica, fazendo com que as chuvas se concentrem ainda mais nesses locais. Dessa forma, ao caírem em uma área plana e de escoamento lento, como a que estamos abordando, o nível das águas fica incontrolável.
Em entrevista ao Fantástico, no mesmo material que citamos anteriormente, a engenheira hidróloga Luna Gripp falou sobre um último fator, que colaborou ainda mais com a situação. Segundo ela, as chuvas concentradas em espaços específicos sobrecarregaram “(…) a maior bacia hidrográfica do mundo inteiro”.
Ela diz: “O que aconteceu de diferente esse ano, que fez com que todo o estado inundasse, foi que as chuvas ocorreram justamente nos locais (…) que realmente vão influenciar na subida do nível dos rios”.
Os pontos mais atingidos
Não demorou para que esse conjunto de fatores fosse percebido por populações locais. Em Roraima, por exemplo, a nascente do rio Branco, principal afluente do rio Negro, foi extremamente atingida pelas chuvas causadas pelos motivos que apresentamos anteriormente.
Além disso, o cenário fora do país não tem sido diferente, e colabora com essa intensificação. No Peru, na região em que se encontra a nascente do rio Solimões, o volume de água também tem sido desproporcional em comparação a outros momentos.
A soma desses dois pontos tem gerado enchentes ainda mais severas em território nacional, principalmente no espaço em que os dois rios se encontram. Até o momento, apenas em Manaus foram mais de 24 mil famílias prejudicadas entre os 15 bairros mais atingidos, com pontos de alagamento em locais como a Praça do Relógio e o prédio da Alfândega.
Lotes de madeira apreendida de extrações ilegais passaram a ser doados a moradores para a fabricação de marombas, elevações nos cômodos das casas que buscam impedir a subida da água. Além disso, a própria prefeitura promove a montagem de passarelas suspensas nas ruas, para que a circulação de pessoas seja facilitada.
Outra contribuição governamental se faz através do Auxílio Enchente em casos de emergência. Também em entrevista ao Fantástico, o secretário da defesa civil do Amazonas, Francisco Máximo, apresentou alguns números sobre o assunto.
Segundo ele: “(…) 12 mil famílias já estão sendo contempladas [com o Auxílio Enchente]”. Além disso, garantiu que ainda existe a possibilidade de multiplicar essa assistência, afinal: “(…) o planejamento está voltado para 100 mil famílias”.
A prefeitura de Manaus, por sua vez, informou em nota que cadastrou “(…) mais de 3 mil famílias na área urbana e rural para receberem o Auxílio Moradia, no valor de R$ 300, por três meses, e Auxílio Enchente, que completará a ajuda com mais R$ 200, durante dois meses”.
O pior momento possível…
Vale destacar que todos esses problemas tem se desenvolvido durante uma das fases mais turbulentas da pandemia causada pela COVID-19. No Brasil, o total de vítimas ronda os 475 mil mortos até o momento, sendo mais de 7800 no estado do Amazonas.
Apesar de não figurar no topo da lista nacional, especialistas indicam que é possível que esse número seja sete vezes maior, uma vez as subnotificações são recorrentes.